Aos que duvidam do acaso

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25.12.11

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Estarrecido, indignado, revoltado, melancólico, inconsolável. Foi como terminei o livro "O Sobrevivente: memórias de um brasileiro que escapou de Auschwitz", de Aleksander Henryk Laks com Tova Sender. A obra conta a história de Henryk, um judeu polonês nascido na cidade de Lodz em 1927. Sua mãe morrera em decorrência do parto, o segundo das duas gravidezes que teve, das quais a primeira rendeu gêmeos que morreram em poucos dias. Seu pai casou-se com Balcia Leser, madrasta que lhe dedicou todas as graças de mãe. A família, de certa forma, vivia bem apesar do anti-semitismo instalado nas mentes polonesas da época.

Esse quadro mudou em 1º de setembro de 1939, com a invasão das forças hitleristas na Polônia. A partir daí, teve início o que o autor chamou de "o maior pesadelo da humanidade". Com uma narração carregada de sentimentos e uma linguagem tragicamente funcional, Henryk cumpre o seu objetivo de trazer aos leitores os detalhes do Holocausto, retratando mecanismos de extermínio, como as câmaras de gás e a Marcha da Morte; de tortura, como as vinte e cinco pancadas; além de todo o tratamento dado aos segmentos em repúdio.

Aleksander escapou e, por vínculos familiares, chegou ao Brasil, onde vive feliz e divulga ao mundo, a pedido de seu pai, toda a sua história de vida, mostrando tudo o que a mente humana pode ser capaz de tramar quando hipnotizada por ideias insanas."O Sobrevivente" não é a história de quem lutou, cuidadosa e fervoramente, pela vida, mas, sim, de um indivíduo que conseguiu, por obra do acaso, transpor os mais improváveis obstáculos e disseminar pelo mundo toda a obra de uma massa ébria, de uma humanidade tomada por ideias desumanas.

Ler esse livro não é tão fácil quanto ler ficção, pois tudo o que ali foi dito aconteceu realmente. Nem é tão normal quanto ler as notícias de genocídios que permeiam os periódicos. Ler esse livro é entender o que os documentários sobre a Segunda Grande Guerra não conseguem mostrar. É sentir nos órgãos o poder da tortura. E o mais importante: é valorizar o tempo presente, pois a paz na qual descansa pode esmaecer por um simples aperto de botão. À medida que a leitura de desenrola, acumulam-se sentimentos que provocam reflexões duradouras. Se o livro é aberto pela manhã, fechar-se-á apenas à noite, por ação do cotidiano. Se lido à noite, será bom se preparar para uma noite turbulenta: será complicado dormir em paz.

Aleksander Henryk atualmente.

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