A greve e a cultura do desleixo

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9.6.12

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Nos últimos dias, pensei muito sobre o papel dos professores na educação e cheguei a algumas conclusões interessantes. Primeira: professor não é parte fundamental para o estudo de ninguém. Digo isso porque quem estuda sabe que a maior parte do estudo se faz fora da sala de aula, em casa, nas bibliotecas, com um grupo de amigos e montanhas de livros. Segunda: não ser parte fundamental não quer dizer não ser importante. O professor pode ser entendido como um guia para a vida, que, além de tratar dos assuntos acadêmicos dos quais todos precisam para ascender profissionalmente, cobra responsabilidade, fomenta discussões, delibera opiniões, tudo para que, no fim, todo o seu trabalho culmine em um grupo de verdadeiros cidadãos críticos, conscientes de seu papel social e com condições bélicas para lutar contra a alienação.

Diante disso, entro no assunto desta postagem: a greve dos servidores federais, que está prestes a romper a membrana espessa colocada, no ano passado, por falsas promessas e esperanças inócuas. Quando se falou na possibilidade de volta da greve, todos os estudantes (inclusive eu) sentiram um forte aperto, seguido de uma rejeição imediata ao movimento. Isso foi causado por várias forças sociais, que, quando aplicadas na área mínima do nosso bem-estar estudantil, provocou uma pressão tremenda. Os agentes produtores de tais forças - familiares, amigos de outras escolas, concorrentes do vestibular ou qualquer outro concurso - são incansáveis.

No ano passado, apesar de todas as mazelas, a maior parte do corpo estudantil apoiou a greve. Sim, todos sabemos que as causas eram e continuam sendo justas. Hoje, a questão emergente é: o fato de ter ocorrido uma greve há pouco, a qual provocou um atraso tal que as aulas de 2012 começaram no dia 16 de abril, invalidam a causa? Ou seja, esse atraso é um fator para que se seja contra a greve? E, pensando no assunto, veio-me à cabeça a seguinte questão: ser contra a qual greve? A greve dos professores e/ou a greve dos estudantes*? Sim, meus caros, quando professores cogitam greve, eles só precisam se posicionar sobre essa greve. Os alunos precisam se posicionar frente à duas: a dos professores e a deles mesmos, devido a uma cultura desprezível que se tem, a qual faz pensar que, sem escola, o estudo é dispensável.

Não entendeu? Explico com o meu posicionamento. Eu sou inteiramente a favor da greve total** (se for para ser parcial, é melhor que não aconteça) dos professores, mas sou completamente contra a greve dos estudantes. Já foi dito que estudante não precisa de professor para estudar, então por que ficar em casa de pernas para o ar quando meu calendário escolar está atrasado? Muitos podem dizer que isso não vai adiantar, porque, de qualquer modo, o conteúdo deverá ser passado independentemente pelos professores. Mas esse pensamento cai por terra quando se pensa na quebra de ritmo que se tem quando o estudo cessa por muito tempo. Além disso, todos sabemos como são os bimestres pós-greve: trabalhos e mais trabalhos, provas e mais provas, numa avalanche que enterra nosso tempo por completo.

Apesar de que não poderemos contar com todas as contribuições dos professores,  os quais farão uma falta tremenda, por motivos já explicados, o estudo durante a greve fará com que os bimestres seguintes fluam sem maiores problemas. A maioria que adere à greve estudantil o faz sem perceber, abraçando comodamente o ócio tentador; alguns poucos possuem a visão falaciosa de que o abandono dos estudos durante a greve faz com que o movimento se fortaleça. Acho que não é necessário ficar discorrendo sobre os meios eficazes para se fortalecer um movimento como esse, não é?

Abraçar a luta pela educação federal é abraçar a luta pela educação pública brasileira. Vamos fazer os políticos se lembrarem de que eles são os nossos subordinados. O povo brasileiro é muito passivo, espera sentado enquanto o descaso assola o país. À greve, então, meus caros, e vamos ver se a educação ganha mais espaço no Brasil.
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*Aqui, greve dos estudantes equivale a parar por completo os estudos dentro e fora de sala de aula.
**Acho que esse não é o momento para uma greve. Mas, já que está se consolidando, não serei contra.Como muito já foi repetido, "estamos todos no mesmo barco".

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