A opacidade é perniciosa

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4.9.13

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O Brasil é o país das aberrações políticas. Isso está bem claro nas capas de jornais, que, diariamente, estampam ocupantes de importantes cargos envolvidos em polêmicas absurdas, como foi o caso do Mensalão e de tantos outros fenômenos, além de diversas práticas cujas intenções maliciosas são tão óbvias que assombra não serem notadas e combatidas pela população. Uma delas, que vem ganhando especial atenção, é o voto secreto parlamentar, ao qual as atenções se voltaram graças à uma votação em trâmite, visando exatamente a acabar com essa monstruosidade, a qual, há tempos, representa atrasos consideráveis ao país.

O poder político é aquele que garante ao indivíduo a capacidade de controlar a coerção estatal em nome do bem público. Esse conceito, em um país onde elites históricas dominam a sociedade, é muito atrativo, por permitir a manutenção do status quo de determinados grupos. Para agravar a situação, no Brasil, poder político e poder econômico são conceitos que se misturam, provocando a vinda de ainda mais sujeitos mal-intencionados para cargos que deveriam abrigar aqueles interessados em tirar o país da lama, e não apenas os próprios pés. Alguém que entra para a política brasileira precisa se manter e, como não está disposto a fazê-lo de forma honesta, necessita de apoio, e é, nesse momento, que o voto secreto vira uma perigosa arma.

Um exemplo, igualmente recente, é o do deputado Natan Donadon, sentenciado a mais de 13 anos de prisão por corrupção durante seu mandato em Roraima. O excelentíssimo conseguiu, em votação na Câmara, manter-se na política, ainda que sem os exacerbados benefícios. Ora, está provado que o homem não está interessado em transformar a realidade brasileira, em representar e trabalhar para o povo, em honrar o poder que ostenta. Está claro que não é apenas um inútil, mas um agente nocivo para o país. E, mesmo assim, conseguiu votos suficientes para vencer. De onde vieram esses votos? Será que de pessoas honestas, pautadas em argumentos consistentes para a defesa do réu, ou de outros sanguessugas, atraídos pelos benefícios que esse voto, nesse contexto, traria para si ou para um grupo a que faz parte?

As ações que um parlamentar perpetra durante seu mandato devem ser vistas como a representação do seu mérito. A partir das suas realizações, deve ser definido o caráter político do sujeito. Não importa as forças que o moveram, porque o Brasil não pode se dar ao luxo de deixar que sua política seja palco de manipulações deliberadas por atores dispostos a trair seus eleitores por qualquer causa. Um homem que não honra seu compromisso na política precisa ser imediatamente repudiado pela população. O voto secreto impede a avaliação do eleitor acerca não do que o parlamentar propôs, mas do que ele permitiu - e, portanto, concordou - que fosse proposto e aprovado. Quando um político vota na permanência de um corrupto, deve ser tachado, de forma rígida e direta, de desonesto, mesmo que não seja, porque a política não é lugar de tramas e tolerância abusiva. Esse sujeito somente deverá ter seu julgamento alterado se tomar atitudes antagônicas aos seus atos irresponsáveis.

A permanência do voto secreto acentuaria os problemas brasileiros concernentes ao voto consciente para a escolha de políticos. Aqueles que se preocupam com o caminhar do país precisam conhecer aqueles com os quais está lidando, para poder impedir ações impensadas por parte de indivíduos de má índole. O voto aberto está longe de ser a solução para a escolha dos candidatos certos, mas contribuiria para impedir a reeleição de pragas anônimas e a manutenção das aberrações como a do deputado presidiário. A política brasileira precisa ser renovada e a transparência é um aspecto fundamental para a concretização desse processo. A opacidade, nesse caso, é demasiada perniciosa.


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