Fase beta

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1.11.13

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Olhando-me por dentro, enxergo-me cabisbaixo. Sem um mínimo de vontade, sem a cara e a coragem. Sem a linha que costura, sem a ponta da língua. De minha coluna torta, de meus cabelos machucados, do peso em minhas costas, do olho avermelhado, a triste imagem se monta, meu corpo se ergue em formas, que se esvaem como se o vento o pungisse com a força de fortes argumentos. Meu parecer reflete meu não mover, informa meu mal saber. Olhando-me por dentro, sei bem como não sei tão bem.

Conversando comigo mesmo, faltam-me as frases elaboradas, sobram-me aquelas já repetidas. Das opiniões, apenas lanço ecos das minhas buscas incessantes por alimento já cosido. Meus recursos linguísticos não funcionam mais. Depois de muito falar, concluí que essa minha conversa foi longa e nada proveitosa, porque não disse nada. Não transmiti ao meu interlocutor o quanto queria me expressar, mas apenas o que eu tinha para falar. Quando a intenção está defasada em relação à capacidade, a frustração é a primeira inimiga a subir no altar e proclamar ao mundo sua verdade. Conversando comigo mesmo, fiquei sem palavras, e a conversa não passou de um espetáculo de clichês alados.

Refletindo com meus botões, algo diferente se desenhara. Apesar de minhas fatigadas tentativas de ser potente, percebi que não parara de tentar. Das dificuldades do caminho, surgia esperança para crescer ao topo de minha incapacidade e lá plantar mais conhecimento e perseverança. Posso não suprir meu desiderato por ser ouvido como quero ser ouvido - e não como os outros pensam que eu deva ser ouvido - mas o pão é infindo, e suas migalhas demarcam o caminho, através do qual sempre preciso passar para lembrar e seguir cumprindo a minha sina, ao menos enquanto respiro minhas primeiras décadas: ser fase beta em constante aprimoramento.


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