Respeito à opinião

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30.3.14

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Em uma discussão cotidiana, são frequentes os cruzamentos de opiniões divergentes sobre os mais diversos assuntos, desde questões subjetivas, como a preferência por sorvete de baunilha ou de chocolate; até tópicos objetivos, tais como a legalização do aborto e a aplicação de cotas raciais em universidades. Principalmente no segundo caso, no qual são tratados tópicos mais sérios, à proporção que o debate se acirra, e os participantes encaram o fantasma da discordância, surge uma expressão ameaçadora, capaz de dissolver qualquer resquício de conflito: "respeite a minha opinião". É nessa colocação que se encontra o embrião da comodidade e da estagnação intelectual, pois baseia-se no equívoco de considerar o verbo "respeitar" como sinônimo para "aceitar passivamente", quando, na verdade, o sentido mais adequado ao contexto democrático em que se vive seria "considerar ativamente".

Quando argumentos são meramente aceitos, ocorre uma concordância generalizada, cujos únicos produtos são pessoas satisfeitas por terem mantidas íntegras suas opiniões e imagens de bons debatedores perante os envolvidos na discussão, o que dá a sensação - na maioria das vezes, ilusória - de se estar sempre com a razão. Dessa forma, instaura-se uma inércia do pensamento, oriunda da inexistência de contra-argumentações racionais. Seguindo essa ideia, o status quo se manteria, porque não passaria de um conjunto de opiniões a serem "respeitadas".

O maior respeito a uma opinião - e ao seu emissor -, no entanto, seria a consideração desta, dentro do contexto de um debate de ideias, como uma parte imprescindível do processo racional, o qual implica, necessariamente, em se pesar o que é coerente e o que ultrapassa os limites do entendimento lógico. Isso, sim, significa compreender e relevar a diversidade de pensamento, enxergando as consequências de ideias mal-formuladas e abrindo espaço para transformações no modo de pensar as questões relevantes das esferas circundantes à vida do homem.

A ocorrência ou não desse equívoco está relacionada com a visão que se tem das discordâncias, em um debate, no contexto das relações interpessoais. Muitos invocam o "respeitar a opinião" ao verem suas capacidades intelectuais questionadas no momento em que suas ideias são postas em xeque. Como ninguém quer ser mal-visto, o mais interessante seria parar a discussão. Esse entendimento não considera os embates de pensamento como componentes capazes de aprimorar e construir novas significações, mas apenas como brigas destinadas à humilhação pública. Com essa falta de compreensão, não pode haver um efetivo aproveitamento das ferramentas democráticas, pois os participantes do sistema não têm a capacidade de utilizá-las.

Quando se tratando de ideias, o respeitar nada mais é que dar, a todas elas, a chance de serem destruídas ou aprimoradas, independente de quem as tenha proferido. É descortinar todas as fragilidades dos argumentos e, a partir deles, compor novos, através de um processamento crítico e lógico do pensar. Isso somente é possível quando se percebe o debate como uma situação de cooperação racional, e não de escarnecimento intelectual. É dessa maneira que a democracia se consolida, e as decisões concernentes a todos, em uma sociedade, bem como as opiniões cotidianas, tão apaixonadamente defendidas, tornam-se mais sensatas e comprometidas com a realidade e sua transformação.

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